Pesquisadores da Universidade Federal de Lavras propõem soluções para os mananciais do Sistema Cantareira
Pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA), em parceria com o Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê), estudam há quatro anos os efeitos da gestão conjunta dos recursos água, energia e alimento aos mananciais do Sistema Cantareira, em Minas Gerais e São Paulo. O estudo aponta que as atividades agrícolas realizadas no entorno dos reservatórios podem impactar negativamente na manutenção e produção de água.
Os pesquisadores Bruno Montoani Silva e Junior Cesar Avanzi da Escola de Ciências Agrárias de Lavras (ESAL/UFLA) e Rafael E. Chiodi da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FCSA/UFLA) explicam que para não faltar água nos reservatórios nos períodos de estiagem, não basta apenas recuperar as áreas de mata ciliar, aquelas próximas dos cursos d’água, é preciso recuperar as áreas que estão dentro da bacia hidrográfica, ou seja, um pouco mais distantes. Essas são muito importantes para a recarga, que ocorre quando a água, que entra no solo por meio da superfície, alimenta o lençol freático e depois é direcionada para os cursos d’água, e assim, chega ao reservatório.
A pesquisa mostra ainda que as áreas com uso de floresta nativa e reflorestamento com eucalipto têm melhor contribuído com o potencial de recarga de água no solo. Além disso, ao estudar os principais tipos de solo da região, os pesquisadores concluíram que os Argissolos Vermelho-Amarelo e com cobertura florestal são os mais importantes para a infiltração de água, por serem melhor estruturados e porosos, em comparação com os demais solo da região. Outro ponto é que a mata nativa e o eucalipto apresentaram maior taxa de infiltração de água em relação às pastagens.
Em relação às taxas de erosão, cerca de 32,5% do Sistema Cantareira apresentaram valores de perdas de solo acima daqueles considerados toleráveis. “A adoção das melhores práticas de manejo em áreas-alvo é mais eficiente para reduzir oscilações temporais na disponibilidade hídrica do que apenas restaurar áreas de mata ciliar. Assim, o incremento da cobertura florestal ciliar, combinado com as melhores práticas de manejo, é uma estratégia interessante no contexto dos pagamentos por serviços ambientais e promoção da sustentabilidade”, destaca o professor Junior Avanzi.
O estudo também alerta para o fato de que a área de contribuição dos reservatórios é ocupada predominantemente por pastagens e eucaliptos, atividades críticas para a conservação dos recursos hídricos do Sistema Cantareira, devido ao modo como são manejadas. “Se o uso e manejo dos solos no entorno não for conservacionista, poderá haver um prejuízo para o produtor rural ao afetar o sucesso dos cultivos, pela compactação, intensificação do déficit hídrico, redução da infiltração de água no solo e aumento nos sedimentos oriundos de processos erosivos que podem assorear esses reservatórios, diminuindo, assim, a sua vida útil”, explica o professor Bruno.
Aplicação
A pesquisa integra o projeto “Água, energia e alimento: aplicação da abordagem nexus para contribuir com a gestão dos recursos naturais na área de contribuição do Sistema Produtor de Água Cantareira”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Os resultados da pesquisa estão subsidiando a ação do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), parceiro do projeto, em algumas propriedades que estão realizando a transição do sistema de pastejo tradicional para o sistema de pastejo rotacionado, que promove várias melhorias na condição do solo, por consequência, melhorias nas condições dos recursos hídricos. Novos estudos devem ser realizados para avaliação desses resultados.
É válido destacar que o Sistema Cantareira é um dos maiores sistemas de abastecimento do planeta. Por tal importância, é vital a adoção de práticas de conservação do solo e da água em sua área de contribuição.