Alimentação de animais silvestres em recuperação requer cuidados especiais
No Ambulatório de Animais Selvagens (Amas) da UFLA, diversas espécies,
algumas ameaçadas de extinção, encontram cuidados e esforços para voltarem à natureza
Animais domésticos como cães e gatos necessitam de uma alimentação balanceada e específica, de acordo com suas necessidades. O mesmo ocorre com os de vida silvestre; porém, ainda são necessárias muitas pesquisas para entender melhor o hábito alimentar de mamíferos como o lobo-guará, tamanduá-bandeira, cachorro do mato, entre outras espécies.
Alguns desses animais, vítimas de acidentes, chegam até o Ambulatório de Animais Selvagens (Amas) do Hospital Veterinário da Faculdade de Zootecnia e Medicina Veterinária (FZMV) da Universidade Federal de Lavras (UFLA). No local, eles recebem cuidados médicos e acompanhamento por diversos especialistas.
A estudante de Zootecnia Júlia Sathler, uma das responsáveis pela formulação da dieta desses animais silvestres, explica que, ao chegarem no local, os animais são pesados para calcular a quantidade energética necessária em sua dieta diária. Os zootecnistas do Amas avaliam se o peso do animal está dentro do padrão da espécie e direcionam os melhores alimentos. “Vamos testando se o animal consegue comer alimentos sólidos ou se ele tem uma preferência por alimentos mais úmidos”, explica Júlia.
Como um nutricionista humano, o zootecnista calcula a dieta, incluindo o número de refeições e água por dia, bem como os horários, de acordo com o hábito de cada animal. “Como há poucas informações sobre níveis de proteína e fibra, vamos calculando e testando tudo para dar o melhor suporte aos animais neste período de recuperação”, diz a estudante.
Os animais feridos necessitam de mais energia para recuperação, devido à idade ou ao estado no qual chegam. Alguns necessitam, inclusive, das chamadas “papinhas”, como é o caso da nova paciente do Amas, uma tamanduá-bandeira de apenas três meses, resgatada pela Polícia Militar Ambiental em uma área rural de Cana Verde (MG). “Como ela é um animal que fica grudado nas costas da mãe até completar a fase de amamentação, acreditamos que tenha ficado órfã”, esclarece o estudante de Ciências Biológicas, Luiz Fernando de Bastos Junior.
Assim como a pequena tamanduá, outras espécies, como filhotes de maritacas, necessitam das fórmulas, que contém fibras e proteínas. Cerca de um quilo da fórmula custa entre R$ 60 e R$ 80. “Os filhotes comem essa papinha por pelo menos 30 dias, dependendo do tamanho que chegam até aqui; depois fazemos a transição para as frutas, como mamão, banana, entre outras”, conta o estudante Roberto Oliveira Mellem Kairala.
Campanha de arrecadação de alimentos para os animais silvestres
São gastos, semanalmente dezenas de quilos de frutas e legumes. Devido à demanda da dieta dos animais e ao término de alguns contratos, o Grupo de Estudos de Animais Selvagens (Geas/UFLA), responsável pelo Ambulatório, está realizando uma campanha de arrecadação de frutas, legumes e folhas (couve, alface, almeirão, etc), com exceção de: abacate, batatas, vagens, lentilhas e beterraba. A campanha também inclui carne, para os animais carnívoros.
A médica veterinária responsável pelo Amas, Samantha Mesquita Favoretto, esclarece que as doações podem ser entregues na secretaria do Hospital Veterinário de Pequenos Animais, localizado na Avenida Sul da UFLA, ou no Ambulatório de Animais Silvestres. Aqueles que não puderem realizar a entrega pessoalmente, podem enviar uma mensagem para o Instagram @geasufla que algum integrante do grupo irá buscar.
Ambulatório de Animais Selvagens
Fundado em 2015, o Amas realiza o atendimento de animais silvestres nativos e exóticos, de vida livre ou que vivem sob cuidados humanos. Registrado como extensão universitária, o Ambulatório de Animais Silvestres faz parte do projeto intitulado “Promoção em Saúde Animal no Município de Lavras e região”, e tem como membros estudantes dos cursos de Medicina Veterinária, Ciências Biológicas, Zootecnia e Engenharia Ambiental da UFLA, que realizam, sob a supervisão de Samantha e dos professores Rodrigo Norberto Pereira e Antônio Carlos Cunha Lacreta Junior, o atendimento, acompanhamento, manejo e a formulação de dietas para os animais, de acordo com suas necessidades e hábitos.
Animais acolhidos
Atualmente, o Amas acolhe e cuida de 23 maritacas, um jabuti, uma jaguatirica, um lobo-guará, um cachorro-do-mato e uma cobra jiboia. As aves são as espécies que mais chegam ao ambulatório, principalmente nessa época do ano, como comenta Luiz Fernando. “Estamos no período em que muitos filhotes que nasceram agora no verão são encontrados em ambiente urbano. Pessoas os encontram no chão, próximo aos ninhos, já que eles tendem a começar a voar. Por isso, orientamos que ao localizar essas aves, caso estejam sem nenhum ferimento, deixem-nas onde estão, pois os pais estão próximos para alimentá-las, é a forma natural que as coisas acontecem. Se houver risco de ataques de cães ou gatos, pode apenas colocá-las em um lugar mais alto”.
Destinação dos animais
A filhote de Tamanduá-bandeira atendida pelo Amas em breve será encaminhada para o projeto Áreas de Soltura de Animais Silvestres (Asas), criado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O projeto tem como objetivo receber, reabilitar e soltar animais silvestres da fauna brasileira.
Já os outros animais que chegam até o Amas podem ser soltos caso a alta ocorra em até três dias após a internação. Essa soltura é realizada em um local próximo ao qual o animal foi encontrado. Caso ultrapasse os três dias, o animal é encaminhado ao IEF ou à Polícia, que o destina a abrigos, centros de reabilitação ou santuários.
Não alimente animais silvestres
É necessário manter as espécies silvestres afastadas ao máximo do convívio com o ser humano para que elas possam manter seu instinto de buscar os alimentos na natureza. “As pessoas têm o costume de alimentar animais silvestres com alimentos feitos para humanos, isso causa um desequilíbrio na flora bacteriana intestinal desses animais, além de transmitir doenças por conta do contato com o humano. A nossa orientação é que não façam isso. Como esses alimentos não podem ser encontrados na natureza, esses animais acabam vindo para a cidade e correm o risco de sofrerem acidentes e serem atropelados”, finaliza a estudante de Zootecnia Júlia.